Totus Tuus: A Vida Ofertada de São João Paulo II

Totus Tuus: A Vida Ofertada de São João Paulo II

São João Paulo II foi um dos maiores sinais de esperança que Deus enviou ao mundo moderno. Nascido em Wadowice na Polônia, viveu desde cedo as dores da guerra, as perdas familiares e o peso dos regimes totalitários, mas nada disso o endureceu, pelo contrário, cada ferida o aproximou ainda mais de Deus e das pessoas.

A dor que poderia tê-lo fechado em si mesmo o transformou em um homem profundamente livre, e desde jovem compreendeu que o sofrimento quando oferecido com amor, se torna caminho de redenção. No meio do caos do século XX, Karol Wojtyła foi a voz serena que lembrava a humanidade de que o mal não tem a última palavra.

Essa capacidade de transformar o sofrimento em amor moldou toda a sua trajetória espiritual. Como sacerdote, professor e depois bispo, viveu uma fé encarnada e humana, amando a cultura, o teatro, a natureza e a amizade — vendo em tudo isso uma forma de encontrar Deus em constante oração, mas nunca distante da vida. Sua teologia nasceu dessa experiência viva: acreditava que o ser humano só se compreende à luz do amor e ensinou que cada pessoa é um dom que encontra sentido ao se doar ao outro. Essa convicção inspirou suas catequeses sobre o corpo e o amor humano, nas quais mostrou que a beleza do corpo está no seu chamado à comunhão e que a liberdade autêntica é sempre um gesto de entrega.

Como escreveu em Redemptor Hominis, “o homem é o caminho da Igreja” (n.14), João Paulo II via em cada pessoa um reflexo do próprio Cristo — especialmente nos pobres, nos jovens e nas famílias, e dessa experiência profundamente humana e orante brotou o pastor universal. Como Papa, João Paulo II atravessou o mundo levando Cristo nos gestos e nas palavras, não apenas como um líder religioso, mas um pastor que caminhava com o seu povo, pregando com alegria, falando a cada nação na sua própria língua e, com isso, fazia o Evangelho soar próximo, humano e vivo. Sua mensagem era sempre a mesma: “Não tenhais medo”, e dizia isso com a convicção de quem experimentou a noite e conheceu a luz. Enfrentou regimes autoritários, defendeu a vida, a liberdade e a dignidade de cada pessoa, mas não se deixava dobrar pelas ideologias, porque sua fé não era teórica — era uma experiência de amor que o sustentava.

Foi também um protagonista na história mundial, cuja voz contribuiu para a queda do comunismo na Europa, o diálogo entre religiões e a defesa incondicional da vida humana desde a concepção até a morte natural. Assim, sua missão espiritual e histórica se entrelaçaram, fazendo de seu pontificado um farol para a Igreja e para o mundo.

São João Paulo II apesar de sua profunda santidade, viveu também o peso de decisões difíceis e os limites do seu tempo, enfrentou críticas e contradições, e nem todas as suas decisões foram plenamente compreendidas — mas mesmo nelas, buscava discernir a vontade de Deus. Seu pontificado, intenso e longo, foi por vezes criticado por quem esperava respostas mais rápidas ou posturas diferentes diante de certos problemas da Igreja e do mundo, ainda assim, seu coração
jamais buscou o poder, mas o serviço.

João Paulo II nunca se apresentou como um homem sem falhas, mas como alguém que, apesar de tudo, continuou acreditando, amando e servindo. Sua vida ensina que a santidade não é feita de perfeição, mas de fidelidade — de quem, mesmo ferido, segue em frente confiando na misericórdia de Deus, que transforma cada fraqueza em instrumento de graça. Na Novo Millennio Ineunte, ele recordava: “A santidade é o horizonte que se abre a todo batizado” (n. 30), lembrando que a medida da vida cristã é a fidelidade cotidiana.

Nos últimos anos, quando a fraqueza física tomou conta de seu corpo, ele evangelizou de um modo ainda mais profundo – pregou com o silêncio e com a dor. Mostrou que o sofrimento, longe de ser um fracasso, pode se tornar um ato de amor, e mesmo diante da doença, sua serenidade revelou ao mundo um Papa que continuava sendo pastor — agora, pela cruz. Naquele 2 de abril de 2005, quando partiu, milhões de pessoas choraram não por um Papa distante, mas por um pai que soube amar até o fim. O clamor espontâneo de “Santo súbito” não foi um gesto de emoção, mas o reconhecimento de que sua santidade já era visível havia muito tempo.

Hoje, São João Paulo II continua a ser um apelo à consciência cristã, nos recordando que a fé verdadeira precisa se transformar em compromisso. Em um tempo em que muitos se cansaram de palavras, ele nos lembra que o Evangelho se anuncia com a vida, coragem, coerência e compaixão, não bastando dizer “Senhor, Senhor” — é preciso viver como Ele viveu: servindo, perdoando, construindo pontes, e sendo “testemunha da esperança” (Carta Apostólica Novo Millennio Inuente, nº. 56), escolhendo o bem quando o mal parece mais fácil, sem com o coração firme e o olhar voltado para o alto.

Nos altares do mundo, João Paulo II não é apenas lembrado — é amado, e sua vida se tornou um espelho no qual a humanidade pode ver a força da fé e a ternura de Deus. Ele viveu de forma inteira: pensou com profundidade, agiu com coragem e amou sem medida – morreu como viveu — de joelhos diante de Deus e com o coração aberto ao próximo, se fazendo dom que nunca morre, apenas floresce na eternidade.

Paz e Bem
Juarez Arnaldo Fernandes (JF)
Especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano e Membro do
Conselho Fiscal da Rádio Alvorada