Quando a Igreja celebra o dia de todos os Santos, ela recorda com gratidão a multidão imensa de homens e mulheres que viveram o Evangelho até o fim. São aqueles que deixaram que o amor de Deus atravessasse suas vidas nos gestos simples, nas dores suportadas com fé, nos atos de bondade que ninguém viu, mas que o Céu guardou com carinho. Essa festa nos lembra que a santidade não é algo distante, reservado a poucos escolhidos, mas uma vocação de todos nós deixando-se amar por Deus e, por amor a Ele, se doa aos irmãos.

O Papa Bento XVI disse certa vez que “há santos que somente Deus sabe o nome”, e talvez sejam esses os maiores, os que não tiveram altar nem biografia, mas viveram com o coração aberto e fiel. São mães silenciosas, trabalhadores justos, jovens generosos, idosos orantes, pessoas que fizeram da vida um ato de entrega, nos mostrando que a santidade se faz nas pequenas coisas, quando o amor se torna hábito e o bem se torna natural. Há também os mártires, testemunhas luminosas que derramaram o sangue por Cristo e pelo povo, e neles, o Evangelho se tornou coragem. Suas vidas nos lembram que a fé verdadeira é sempre compromisso com a justiça e com a dignidade humana, homens e mulheres que se levantaram diante da opressão e permaneceram firmes por amor.
E assim como os mártires testemunharam a vitória da vida sobre a morte,também recordamos, no dia de finados, aqueles que completaram sua peregrinação e descansam no Senhor. Nesse dia, a Igreja se reveste de ternura, olhando para os que partiram e reza por eles com saudade e confiança, não sendo um de fim, mas de passagem, pois aqueles que partiram não desapareceram; vivem em Deus, onde toda lágrima é consolada, e a morte não tem a última palavra, pois o amor é mais forte. Rezamos, então, não por quem se foi, mas por quem chegou primeiro, porque a vida verdadeira não termina
no túmulo: ela floresce na eternidade.
É o mistério da comunhão dos santos que a Igreja proclama: unidos no mesmo Corpo de Cristo, a caridade vence as fronteiras da morte e nos une a todos em um só louvor. Entre o céu dos santos e a terra dos que ainda caminham, há um laço invisível e sagrado: a busca diária pela santidade. Ser santo é viver o Evangelho na rotina, ser justo no trabalho, compassivo nas relações, paciente no sofrimento, misericordioso no servir. A santidade não está fora do mundo, mas dentro dele, quando fazemos da vida um dom e do amor um compromisso, pois a fé que celebramos não é fuga do mundo, mas fermento que transforma.
Quem se abre a Deus transforma a realidade à sua volta: luta pela paz, denuncia a injustiça, consola quem sofre e reparte o pão com quem tem fome. Assim o Evangelho se torna vida, e a santidade deixa de ser palavra para se tornar gesto. Na Eucaristia, céu e terra se encontram. O altar é o ponto onde os santos, os finados e nós nos unimos num só louvor; a cada Ceia do Senhor, o tempo se abre e o eterno nos toca, ali a Igreja celeste se une à terrena, e a distância entre nós e aqueles que amamos parece desaparecer, pois todos estamos diante do mesmo Deus, no mesmo amor que não morre. Cada Eucaristia é antecipação do banquete do Cordeiro (Catecismo da Igreja Católica, 1402; Ap 19,9), onde os santos já participam plenamente e nós, ainda peregrinos, saboreamos em penhor o que será plenitude. O sacrifício de Cristo, memorial da cruz e da ressurreição, é o encontro entre o tempo e a eternidade, entre o já e o ainda não da salvação.
Vivemos, então, com os olhos voltados para o alto, mas com os pés firmes na terra. Caminhamos no tempo, mas com o coração no infinito, buscando a cada dia, o rosto de Cristo nas pessoas e nas situações da vida, onde, um dia quando o amor for tudo em todos, Deus nos reunirá na plenitude do seu Reino, onde o sol não se põe e a vida não tem fim.
O Papa Francisco recorda na Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exaltai-vos) que “a santidade é o rosto mais belo da Igreja” (nº. 9), e nela encontramos a alegria de quem vive o Evangelho com simplicidade e coragem. Os santos nos ensinam que a alegria verdadeira nasce do dom de si, os mártires nos lembram que a fé é força e fidelidade, e os finados nos testemunham que a morte é apenas a porta da eternidade.

E nós, peregrinos seguimos o mesmo caminho buscando a santidade nas coisas simples, amando sem medida, esperando sem desanimar, comprometidos com o Evangelho, até que um dia quando o véu do tempo se rasgar e o Cordeiro for nossa luz, veremos a Deus face a face e reconheceremos, em cada olhar salvo, o reflexo do amor que aqui aprendemos a viver.
Que o Senhor nos conceda caminhar com os olhos fixos no céu e os pés firmes na terra, para que um dia sejamos contados entre os santos do seu Reino, onde todo pranto cessará e a vida será plena em Deus. Que assim seja!
Paz e Bem
Juarez Arnaldo Fernandes (JF) –
Especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano