Francisco de Assis, reflexo da eternidade na terra

Francisco de Assis, reflexo da eternidade na terra

São Francisco de Assis soube contemplar Deus em tudo: no irmão sol e na irmã lua, na água que purifica, no fogo que aquece, no vento que sopra livre e em cada criatura que saía das mãos do Criador.

Essa comunhão profunda com a natureza não era romantismo, mas um coração que enxergava em toda a criação um reflexo do amor de Deus. Ao mesmo tempo, Francisco foi um adorador apaixonado por Jesus no Sacramento da Eucaristia. Diante do altar, curvava-se com amor ardente, reconhecendo no Corpo de Cristo a fonte de toda fraternidade e a força para sua missão, e desta contemplação do Cristo Eucarístico brotava nele a coragem de encontrá-Lo também no rosto ferido dos pobres e excluídos.

Francisco nasceu em uma família rica de Assis, cercado de privilégios e sonhos de glória, chegando a vestir a armadura da guerra, movido por ideais mundanos, mas foi no caminho da derrota e da desilusão que descobriu a voz de Deus, e foi diante do crucifixo de São Damião que ouviu o chamado de Cristo: “Francisco, vai e reconstrói a minha Igreja”.

No início, ele tomou o apelo de modo literal, recolhendo pedras e reparando com as próprias mãos as paredes da igrejinha arruinada, mas, pouco a pouco, descobriu que Jesus não falava de muros de pedra, e sim da Igreja viva – feita de irmãos, que precisava ser restaurado na fé, no amor e na comunhão.

Sua vida mudou radicalmente quando trocou as armas do combate pela paz do Evangelho, e não foi à toa que ousou dialogar com um sultão em meio às cruzadas, não para conquistar, mas para semear reconciliação.

Diante do Papa Inocêncio III, vestido de humildade e pobreza mostrou que a Igreja não se esgota em poder e grandiosidade, mas continua viva no Evangelho desnudado de glórias humanas, que fala mais alto do que qualquer esplendor humano.

Foi assim que o santo de Assis compreendeu que os leprosos, os abandonados e os esquecidos eram “cristos da terra”, irmãos ainda hoje crucificados pela indiferença e pela injustiça.

Não basta ajoelhar-se diante do Santíssimo sem estender as mãos ao necessitado; não basta louvar se não partilhamos o pão, o compreender, o acolher.

Sua vida foi simples e ao mesmo tempo radicalmente evangélica: não pregava apenas com palavras, mas com a própria existência. Sua pobreza livre, seu abraço aos últimos e sua alegria transparente tornaram-se uma pregação viva do Evangelho, por isso, até hoje ele continua a inspirar crentes e não crentes, lembrando que a fé verdadeira se traduz em gestos concretos de amor e fraternidade.

E o seu testemunho nos chama a viver um cristianismo encarnado, que une oração e compromisso, adoração e ação, contemplação e justiça, e não um cristianismo de fachada, preso apenas às devoções externas, mas uma fé que se traduz em obras e em escolhas concretas de amor. Francisco nos recorda que não podemos separar o altar da rua, nem a liturgia da vida, nem o Evangelho das dores do povo.

Seu exemplo nos provoca a derrubar os muros da indiferença e a construir pontes de fraternidade, a reconhecer Cristo vivo nos sacrários e igualmente presente nos pobres, nos sofredores e nos que carregam cruzes pesadas hoje.Viver esse chamado é fazer do Evangelho uma experiência de transformação pessoal e social, assumindo a coragem de ser sinal de esperança em meio a um mundo marcado pela exclusão e pela injustiça.

Esse chamado se traduz hoje no espírito de São Francisco de Assis, enraizado em Cristo, que deve impulsionar a Igreja a unir a verdadeira adoração a Jesus no sacramento do altar com o compromisso profético em favor dos pobres eexcluídos.

Em particular, a Igreja de Londrina, diante das “investidas” políticas em ações contra os moradores de rua, que como o Filho do Homem não têm onde reclinar a cabeça, é chamada a defender os cristos de hoje, tornando-se sinal de justiça, amor, fraternidade e equidade no meio da sociedade. Precisamos continuar a reconstruir não as paredes frias de pedras, mas o acolhimento destes irmãos que também são Igreja em oração e ação; pois tentar apagar das ruas, dos espaços públicos e até mesmo dos nossos olhos as manchas da exclusão é impedir que se reconstrua o verdadeiro sentido humano no próximo.

Celebrar São Francisco é deixar sua memória reacender em nós o desejo de uma vida simples, fraterna e profundamente enraizada em Cristo Eucarístico, nos irmãos mais pobres e em toda a criação que clama por cuidado.

Que este 4 de outubro seja apenas o início de celebrar todos os dias, com gestos concretos, o Evangelho vivo que Francisco encarnou. Viver Francisco hoje é fazer acontecer justiça, amor, fraternidade e equidade.

VIVA CRISTO! Viva Francisco de Assis!

Paz e Bem! Juarez Arnaldo Fernandes (JF)

Membro do Conselho Econômico da Rádio Alvorada, e Especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano