Em agosto, a Igreja no Brasil celebra o Mês Vocacional, um tempo especial para refletir, rezar e assumir com renovado ardor o chamado de Deus em nossas vidas. Todo chamado autêntico tem origem no coração de Deus e floresce no coração humano, sendo um convite de amor que nos encontra, nos chama pelo nome e nos envolve no Seu projeto para a história da salvação, e, entre todos os exemplos de resposta a esse apelo divino, nenhum brilha tanto quanto o de Maria.
E essa resposta luminosa não foi um ato isolado — do anúncio do anjo em Nazaré, aos dias de silêncio e dor aos pés da cruz, sua vida foi uma entrega vivida com coragem e confiança. Ela nos ensina que dizer “sim” a Deus não é um acontecimento pontual, mas um caminho de doação diária, construído passo a passo por Ele.
A missão de Maria foi, antes de tudo, consagrar-se inteiramente a Deus. No anúncio do anjo (Lc 1,26-38), ela escuta o convite e responde com fé: “Eis aqui a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra”. Essa resposta não foi
apenas para gerar Jesus no ventre, mas também para entregá-lo ao mundo, tornando-se a primeira cristã, discípula, evangelizadora e missionária do Evangelho.
Sua vocação foi também viver na fé e no silêncio, guardando e meditando tudo em seu coração (Lc 2,19), enfrentando com confiança os mistérios da vida. Mais do que uma experiência pessoal, sua entrega se torna um verdadeiro ícone da Igreja: como a Mulher do Apocalipse (Ap 12), ela permanece apresentando Cristo ao mundo e nos inspira a fazer o mesmo. Quando respondeu com confiança o seu “sim”, Maria revelou que a verdadeira missão nasce da escuta, do discernimento e da disponibilidade ativa diante de Deus. Seu chamado foi único — ser Mãe do Salvador —, mas, ao mesmo tempo, é referência para nossa vida cristã. Assim como Maria acolheu e gerou em si o Cristo Salvador, cada um de nós é convidado a encarnar o Evangelho no seu próprio estado de vida — seja na família, na missão leiga, no ministério ordenado ou na vida consagrada, confiando que o plano de Deus, mesmo quando parece maior do que podemos compreender, é sempre um plano de amor.
A Virgem viveu sua missão com misericórdia. Guardando tudo no coração, aprendeu a olhar a humanidade com ternura e a responder às dores com compaixão, como vemos no Magnificat que entoa a Deus que “derruba os poderosos e exalta os humildes”, mostrando que a vocação não nos fecha em nós mesmos, mas nos impulsiona a transformar o mundo com gestos de justiça, paz e esperança. E aqui está um apelo para o nosso tempo: viver a vocação hoje significa também assumir um compromisso concreto com os que sofrem. Maria nos ensina que não há verdadeira resposta a Deus sem misericórdia diante da fome que grita, das desigualdades que ferem, da exclusão que humilha e da violência que destrói vidas. Ser vocacionado é permitir que o Evangelho toque as realidades de pobreza e injustiça, sendo sinais vivos do Reino no meio das dores do povo.
Portanto, Maria não é apenas espelho de fidelidade ao projeto de Deus, mas também primeira evangelizadora e sinal do Seu amor no mundo, que continua apresentando Cristo à humanidade.E nós? Maria nos recorda que toda vida tem um chamado, seja no cuidado com a família, no trabalho, no serviço aos pobres, na vida consagrada ou no anúncio da Palavra, todos somos vocacionados. Responder ao convite de Deus não é um fardo, mas um caminho de graça; não é uma renúncia sem sentido, mas a plenitude de viver para Ele e para os irmãos, colocando-nos ao lado dos que mais precisam.
Que neste Mês Vocacional não apenas rezemos pelas vocações, mas também renovemos o nosso próprio “sim”, pois o mundo precisa cada vez mais de afirmações: “eis-me aqui”. Que sejamos como Maria, Mãe Vocacional: generosos na resposta, fiéis no caminho e cheios de coragem, para que Cristo continue sendo gerado no mundo por meio da nossa vida e a Igreja viva a cada instante a sua missão de anunciar ao mundo, com esperança, o amor e a misericórdia do Senhor.
Peçamos: “Maria, Mãe Vocacional, ensina-nos a dizer ‘sim’ como tu disseste, a acolher Cristo em nossa vida e a levá-lo ao mundo com amor e coragem. Amém.”
Paz e Bem
Juarez Arnaldo Fernandes
Pós Graduando em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano