Mês da Bíblia à luz de Maria, Mãe da Palavra

Mês da Bíblia à luz de Maria, Mãe da Palavra

O mês de setembro, no Brasil, é dedicado à Sagrada Escritura, nos convidando a Igreja a mergulhar mais profundamente na Palavra de Deus, redescobrindo sua força transformadora para a vida pessoal, comunitária e missionária. A Bíblia não é apenas um livro a ser lido, mas uma Palavra viva, atual, que ilumina os caminhos da fé e alimenta a vida espiritual.

À luz deste mês, não podemos esquecer de Maria, a Mãe que acolheu a Palavra em plenitude, como bem nos afirma o evangelista João: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1,14). Esse Verbo eterno, que é a Palavra de Deus, foi gerado no ventre da Virgem Maria, e em Maria a Palavra não ficou apenas escrita ou proclamada: ela se fez vida, corpo, sangue, história.

Maria nos ensina a verdadeira atitude diante da Palavra: escuta, guarda no coração e obediência, conforme a narrativa do evangelho de Lucas: “guardava todas essas coisas, meditando-as em seu coração” (Lc 2,19). Esse gesto é profundamente bíblico: Maria não lê a Escritura apenas com os olhos, mas com a vida, e a sua resposta ao anjo — “Eis aqui a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a tua Palavra” (Lc 1,38) — se fez o maior ato de fé já realizado por um ser humano diante da vontade de Deus.

A Igreja chama Maria de Nova Arca da Aliança, pois nela habitou o próprio Verbo, a Palavra viva do Pai. Assim como a arca antiga guardava as tábuas da Lei, o maná do deserto e a vara de Aarão, Maria guardou em si a nova Lei, o Pão vivo descido do céu e o Sumo Sacerdote da nova e eterna aliança, e nela, a promessa do Antigo Testamento encontra sua realização plena.

Na liturgia, essa relação entre Bíblia e Maria aparece de modo belíssimo em cada missa é estruturada sobre a Palavra e culminando na Eucaristia, e também em cada Ave-Maria ao repetirmos as palavras da própria Escritura: “Ave, cheia de graça, o Senhor está contigo” (Lc 1,28). A oração da Igreja é, portanto, permeada de Bíblia e marcada pela presença materna de Maria.

Além disso, Maria nos entrega uma chave de interpretação para a Bíblia inteira: “Fazei tudo o que Ele vos disser” (Jo 2,5), em Caná, quando aponta para Cristo, a Palavra encarnada. Essa frase, simples e definitiva, resume toda a espiritualidade do Mês da Bíblia: acolher, ouvir e praticar.

O Mês da Bíblia também é chamado a ser missionário. Maria, ao visitar Isabel, leva a Palavra viva em seu ventre, e essa presença faz João Batista exultar ainda no seio materno, e hoje a Igreja é chamada a fazer o mesmo: levar a Palavra de Deus a todos, especialmente aos pobres e esquecidos, para que a vida seja gerada onde há desespero. Mas é importante recordar que Maria não substitui a centralidade da Bíblia, mas Ela é modelo de quem escuta e vive a Palavra, não fim em si mesma. Ao falar de Maria a Igreja aponta sempre para Cristo, o Verbo encarnado, e por isso, o Mês da Bíblia é antes de tudo convite a colocar a Escritura no centro da vida cristã, deixando que ela ilumine nossas escolhas pessoais, familiares e comunitárias.

Por isso, celebrar setembro é muito mais do que abrir a Bíblia; é permitir que a Palavra entre no coração e molde nossa existência. Concretamente, este mês é ocasião para rezar diariamente com a Bíblia, participar de círculos bíblicos em comunidade e deixar a Palavra orientar nossas decisões, e como Maria possamos dizer: “Faça-se em mim segundo a Tua Palavra”.

Peçamos a Trindade, que a Igreja como Maria, seja sempre ventre e casa onde a Palavra gera vida nova para o mundo, e que nós sejamos chamados a todo instante a sermos propagadores desta Palavra viva no mundo, levando Cristo com nossas palavras, gestos e atitudes.

Que assim seja !

Paz e Bem

Juarez Arnaldo Fernandes

Membro do Conselho Fiscal da Rádio Alvorada, e especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano