A vida de São Pio de Pietrelcina foi marcada por uma entrega total ao mistério de Deus. Homem simples e profundamente espiritual, soube unir a grandeza da graça com a vida comum, mostrando ao mundo que a santidade não é privilégio de poucos, mas caminho aberto a todos que desejam viver o Evangelho com fidelidade.
Sua relação com a Eucaristia foi o coração de sua existência, pois para Padre Pio a Missa não era um rito repetido, mas a atualização real do sacrifício de Cristo no Calvário. Cada celebração era vivida com intensidade, dor e amor, a ponto de impressionar quem participava, devendo a Eucaristia ser vivida com adoração, sem pressa ou indiferença – um encontro vivo com o Senhor que se entrega em remissão por nós.
Quantas vezes deixamos que a pressa roube a grandeza do Mistério? Transformamos a Eucaristia em simples costume, em hábito repetido, em formalidade sem vida… e até a tratamos como se fosse um amuleto em práticas superficiais em retiros e em grupos que não tocam o coração. Padre Pio nos recorda, com sua vida e suas lágrimas diante do altar que a Missa não é rito vazio, mas o próprio Calvário que se abre diante de nós. Sem adoração não há fé verdadeira, e sem entrega a Santa Missa corre o risco de tornar-se apenas uma aparência de devoção, e não encontro vivo com Cristo
que se entrega por nós.
Outro pilar de sua missão foi o confessionário, onde Padre Pio passava horas ouvindo penitentes não como quem apenas absolvia pecados, mas como quem acolhia feridas para curar com a misericórdia de Deus, como “médico das almas”. Em tempos marcados por culpas escondidas e ansiedades, seu testemunho nos convida a reencontrar na confissão o dom do perdão, a coragem da conversão e a serenidade que nasce de uma consciência reconciliada, pois não há cristianismo sem arrependimento, nem salvação sem reconciliação. E aqui é preciso dizer com clareza: a confissão é um dom divino bem maior que o exorcismo (Svmma Daemoniaca, Questão 138), porque expulsa o pecado do coração e devolve a graça perdida, unindo novamente o homem a Deus.
A oração foi a respiração constante de sua vida, tendo sempre o Rosário em suas mãos estendendo sua súplica a todos: doentes, aflitos, pecadores e aqueles que pediam sua intercessão. Num mundo que vive afogado pela pressa e pelo barulho, Padre Pio ensina que rezar não é tempo perdido, mas espaço de encontro, fortaleza e paz em Deus. A sua fé se tornava concreta na caridade – não se contentava em falar de amor: transformou-o em obras – o “Hospital Casa Alívio do Sofrimento”, fundado por ele, permanece como sinal de compaixão transformada em serviço.
Em sua vida, aprendemos que a verdadeira fé se manifesta nas obras de misericórdia e na atenção aos necessitados. Assim também na oração e na caridade, Padre Pio nos mostra que fé sem oração é morta, e fé sem obras é uma inverdade. Seu Rosário constante e o Hospital são gritos proféticos contra a superficialidade de uma religiosidade que fala de amor, mas não se compromete, não acolhe, não se faz voz e vez.
E como não recordar o mistério dos estigmas? Por cinquenta anos, Padre Pio trouxe em seu corpo as marcas da Paixão de Cristo, não sendo motivo de exibição, mas união silenciosa à cruz do Senhor. Numa sociedade que rejeita a dor a qualquer custo, ele nos mostra que quando assumida por amor, a cruz deixa de ser peso inútil e torna-se caminho de vida e salvação com uma voz profética que ainda ecoa: ou deixamos que o Evangelho nos transforme, ou reduzimos a fé a aparência, transformamos carismas em ritos vazios e o comprometimento em mera aparência de serviço. Mas nós precisamos compreender que a devoção autêntica a Padre Pio não se resume a imagens, orações repetidas ou títulos de “filho espiritual”.
O verdadeiro devoto é aquele que imita sua vida: que ama a Eucaristia, busca a confissão com humildade, reza com perseverança, pratica a caridade e carrega suas cruzes com fé – sem isso a devoção se torna superficial e vazia. Importante frisar, que Padre Pio nunca buscou ser o centro das atenções, mas sempre teve seu olhar e seu testemunho apontados como seta para Cristo. Suas chagas refletiam as do Senhor; ao presidir a Santa Missa fazia presente o Calvário e a Ressurreição; sua escuta no confessionário revelava o coração misericordioso do Pai; sua caridade manifestava o amor de Jesus pelos pequenos e sofredores. Aproximar-se dele é, em última instância aproximar-se do próprio Cristo.
Por fim, o desafio que sua vida nos deixa é atual e exigente: não basta admirá-lo, é preciso deixar-se transformar por seu exemplo, pois nos chama e continuará a chamar a viver uma fé sem máscaras, enraizada no Evangelho e fecunda em obras de amor.
Oremos: São Padre Pio ensina-nos a amar a Eucaristia com tua paixão, a buscar o perdão com humildade, a rezar sem desanimar e a servir os necessitados com caridade e misericórdia. Que tua vida seja para nós um caminho que conduz a Cristo, e que, guiados pelo Espírito Santo, possamos viver uma fé verdadeira e transformadora na luta pelo Evangelho.
Que assim seja.
Paz e Bem!
Juarez Arnaldo Fernandes
Membro do Conselho Fiscal da Rádio Alvorada e Especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano