Uma Senhora Conceição que Apareceu

Uma Senhora Conceição que Apareceu

“Lançar as redes…” Esse foi o gesto simples de pescadores que, há mais de trezentos anos, trouxe das águas do Paraíba do Sul uma pequena imagem. Primeiro, em pedaços; depois, inteira. Uma imagem que, com o tempo, se escureceu e se transformou em sinal: um chamado à conversão, uma denúncia das correntes da escravidão e das feridas da desigualdade. Pequena no tamanho, mas imensa no significado, essa imagem tornou-se presença de mãe. A mesma mãe que em tantas terras é invocada sob diferentes nomes — Guadalupe, Fátima, Chiquinquirá, Perpétuo Socorro… — mas que, no Brasil, quis ser chamada de Conceição Aparecida, a Senhora que apareceu.

Em Maria se realizou: o primeiro Pentecostes: sobre ela repousou o Espírito Santo, e o Verbo eterno encontrou morada no seu seio puro e fecundo ; em silêncio e ternura, ela acolheu o Mistério e O fez crescer em seu colo, entre canções de ninar, lágrimas de cuidado e sorrisos de mãe; amamentou o Filho de Deus, cuidou de Suas feridas de criança, aclimou-lhe o choro, ensinou-Lhe as primeiras palavras e o conduziu na escola da vida e da fé ; caminhou ao lado d’Ele em cada passo, até o extremo da cruz, onde permaneceu firme, oferecendo o coração transpassado junto ao coração do Filho ; alegrou-se ao contemplar o Ressuscitado e, depois, foi luz e conselho para os apóstolos na aurora da Igreja nascente; ao término de sua peregrinação terrena, foi elevada ao céu, e desde lá, em cada milésimo de segundo, continua a interceder por nós, seus filhos, como Mãe que jamais abandona.

Essa mesma Maria quis se manifestar no Brasil. Foi em outubro de 1717, nas águas silenciosas do Paraíba do Sul, que se deixou encontrar pelos pobres, em um tempo de escravidão e de dor, ela se fez próxima dos pequenos e esquecidos, revelando que Deus escolhe o que é humilde para confundir os poderosos, como bem afirma o Documento de Aparecida (nº 265-266): “Maria é a grande missionária que continua a formar discípulos e missionários para seu Filho. No coração da América Latina, ela é sinal de libertação e esperança para os pobres e marginalizados.” Por isso, quando nos ofendem, nos perseguem ou nos ferem, a resposta não deve ser a vingança, mas a mansidão. Não adoramos imagens, não oramos para as imagens, mas diante delas elevamos a Deus nossas orações, acompanhados por Maria que sempre nos conduz ao Filho. Toda devoção a Maria, no entanto, é profundamente cristocêntrica (Jesus como centro).

A Igreja ensina que toda a graça que recebemos por meio dela tem sua fonte no próprio Cristo e depende inteiramente da sua obra redentora, assim, honrar Maria, portanto, não diminui a dignidade de Jesus, mas manifesta ainda mais a força salvadora do Filho, a quem ela sempre nos conduz. (Lumen Gentium 60; 66-67).

O Brasil de hoje, tantas vezes marcado pela injustiça, continua a olhar para Aparecida como fonte de consolo e esperança. Assim como a imagem foi retirada das águas, também hoje novas “aparecidas” precisam surgir: homens e mulheres que, com coragem e ternura, sejam sinais de vida em meio às dores do povo, como bem nos recorda a Conferência de Puebla (nº 282): “Maria é modelo do povo que sofre, mas também anúncio de libertação. Nela, os pobres descobrem sua dignidade e a força que Deus lhes concede.”

Celebrar Nossa Senhora Aparecida no mesmo dia em que lembramos as crianças é um chamado à consciência. Quantas continuam sem escola, sem pão, sem afeto, abandonadas, nos recordando Mãe Aparecida que nenhuma criança pode ser descartada, pois em cada uma brilha o rosto de Cristo. Estar com Maria, no 12 de outubro, é assumir o compromisso de amar e proteger os pequenos, especialmente os mais frágeis e esquecidos.

Ser devoto da Mãe Aparecida é aprender com ela a olhar a vida com ternura e coragem. Não se trata de pedir graças diretamente a Maria, mas de confiar à sua intercessão o que trazemos no coração, certos de que ela sempre nos leva a Jesus. Maria apareceu pequena, simples, tirada das águas por mãos pobres, e assim nos ensina que Deus se revela no que o mundo despreza. Diante dela, aprendemos que a verdadeira grandeza está em deixar-se encontrar por Deus na humildade e no amor.

Portanto, caminhar com Maria é ter a coragem de cuidar uns dos outros, de estender a mão a quem sofre, de manter a esperança mesmo quando as águas parecem turvas. Quem anda com a Mãe Aparecida aprende a ser luz na escuridão e a acreditar que sempre é possível recomeçar, e no fim, todo esse caminho tem um só destino: Jesus Cristo, razão da nossa fé e verdadeira esperança.

Oremos:

Mãe Aparecida, teus filhos recordam-te neste dia. Recebe-nos em teus braços, consola-nos na dor, levanta-nos quando caímos e guia-nos sempre para Jesus, o fruto bendito do teu ventre. Intercede pelo nosso Brasil, dá discernimento aos governantes, inspira justiça e bem comum. Protege nossas crianças, para que nenhuma seja esquecida, mas todas recebam pão, dignidade e amor. Confiamos em ti, ó Mãe, diante de teu Filho Jesus, que vive e reina com o Pai e o Espírito
Santo.

VIVA CRISTO ! Viva Nossa Mãe Conceição Aparecida! Viva nossas crianças!
Paz e Bem!

Juarez Arnaldo Fernandes (JF)
Especialista em Cristologia pelo Centro Universitário Claretiano